Quando
olhava a propriedade de 1,8 mil hectares de soja antes da colheita, Lauro
Springer, 50 anos, enxergava uma mancha em um quinto da lavoura cultivada em
Pantano Grande. Eram plantas verdes, maiores que as comuns e com vagens
frágeis.
Nos últimos dias, em vez de retirar os grãos,
apenas passou o trator para destruí-las.
—
Meu pai já era produtor e eu cresci nesse meio, mas nunca vi nada igual ou
parecido
—
relata Springer, que colheu "o que deu" na lavoura atingida.
O
prejuízo estimado passa de R$ 1 milhão. No entanto, o que mais preocupa o
produtor é não saber o que causou o abortamento das flores, impedindo a
formação de vagens e grãos. Por causa disso, ocorre redução da produtividade e
da qualidade da soja produzida em suas terras.
A resposta à dúvida de Springer vem sendo
perseguida por universidades, órgãos públicos e agrônomos de instituições
privadas. Especialistas já estiveram na propriedade do Vale do Rio Pardo e
ninguém soube dar o diagnóstico. Um fitopatologista da Secretaria da Agricultura
foi até a lavoura do produtor e coletou as plantas, enviadas para análise em
laboratório da Embrapa em São Paulo. Casos parecidos ocorreram em Mato Grosso,
Maranhão e Pará. O material também foi para a Embrapa.
De acordo com a Emater, há informações de que
mais lavouras gaúchas apresentaram os mesmos sintomas. Mas houve confirmação
apenas em duas localizadas em Pantano Grande e uma em Ibirubá.
—
Estão chamando de soja louca 2, mas ainda não sabemos se é a mesma coisa ou
qual o agente causador — diz o chefe da divisão de produção vegetal da
Secretaria da Agricultura, José Candido Motta, referindo-se a um problema
anterior semelhante.
Diagnóstico ainda sem data marcada
A mais de 250 quilômetros de Pantano Grande,
em Ibirubá, o agricultor Adilson Dalmolin lamenta a perda de 40 hectares da sua
plantação. O prejuízo é estimado em R$ 120 mil.
—
Fiz tudo certinho, como recomendado, em toda a minha propriedade, que tem 430
hectares. Não entendo porque só uma parte deu problema — questiona Dalmolin.
Não há previsão sobre quando o material
coletado terá diagnóstico. Os pesquisadores querem cruzar informações com
outros Estados. A recomendação é de que os produtores fiquem atentos aos
sintomas.
—
Estamos fazendo o possível para descobrir do que se trata. Mas é difícil, pois
não sabemos se o problema está na semente, no solo ou em algum produto aplicado
— afirma José Candido Motta, da Secretaria da Agricultura.
Soja Louca
Problema
provoca prejuízos em vários Estados
— No
passado, o termo soja louca foi usado para o distúrbio fisiológico em que as
plantas de soja permaneciam verdes e apresentavam poucos grãos ou vagens. A
principal causa de tal efeito era ataque severo de percevejos sugadores ou
desbalanço nutricional.
— A
chamada soja louca 2 é uma anomalia de causas ainda desconhecidas, que
desencadeia uma série de distúrbios fisiológicos na planta. A principal
consequência é o abortamento das flores. As vagens e os grãos não se formam,
levando a planta a vegetar por mais tempo, mantendo as hastes verdes e com
retenção foliar. Por causa disso, ocorre redução da produtividade e da
qualidade da soja.
— As
plantas que apresentarem sintomas da soja louca 2 podem favorecer o
desenvolvimento da ferrugem-asiática, pois permanecem no campo se não forem
destruídas após a colheita.
—
Tais sintomas são parecidos com os apresentados nas lavouras gaúchas. No
entanto, ainda não foi confirmado que se trata do mesmo problema.
— A
Embrapa Soja investiga hipóteses sobre a possível causa do problema, todas
ainda sem resultado conclusivo.
— O
problema ocorre principalmente em regiões do centro norte do país, sendo mais
severo no norte de Mato Grosso, Maranhão, Tocantins e Pará.
Fonte: Zero Hora
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